CARGA HUMANA IGNORADA
A
maioria das pessoas traficadas se dão conta tarde demais
Por
Viviane Vaz
De
tantos atendimentos já realizado com vítimas de abuso e exploração
sexual em menos de 10 anos, eventualmente ouvia histórias de pessoas
que até então nunca se deram conta que foram vítimas de tráfico
humano. E talvez a imagem que se tem desse crime nada se parece com a
realidade. Aquela imagem de que a pessoa é raptada, violentada,
levada a força pra outro país, ficando amarrada fazendo serviço
escravo. Entretanto, esse crime é sutil envolvendo completamente a
pessoa. O aliciador ou aliciadora, é geralmente muito sagaz em
seduzir num relacionamento atraente, proporcionando uma série de
aparentes vantagens, um ‘boa vontade’ em ajudar a pessoa a ganhar
muito dinheiro a troco de amizade a princípio, depois começam a
surgir os primeiros condicionamentos, e conforme vai envolvendo a
vítima se torna extremamente comprometida e devedora.
Luxos,
prazeres e dinheiro são sua maior tentação, que vai levando a
vítima numa armadilha que não tem grade nem corda, não tem
sinalização. As dívidas e a completa dependência a tornam uma
escrava e se vê sem opção de saída dessa cilada.
Meninas
de 9 a 15 anos, são o principal pedido dos poderosos que compõe o
contrabando, afinal sem a demanda não tem venda. As escolas são um
alvo dos recrutadores, que se tornam amigo das meninas, dando
presente e depois começam a apresentar ‘amigos’, seduzindo com
uma série de vantagens.
A
Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (Decreto
nº 5.948/2006)
adota a expressão “tráfico de pessoas” conforme o Protocolo
Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime
Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e
Punição do Tráfico de Pessoas, em especial Mulheres e Crianças,
conhecido como Protocolo de Palermo, que a define como “o
recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o
acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou a
outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso
de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou
aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento
de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de
exploração. A exploração incluirá. No mínimo, a exploração da
prostituição de outrem ou outras formas de exploração sexual, o
trabalho ou serviços forçados, escravatura ou práticas similares à
escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos”
O
que resta de uma pessoa que após tanto engano, que se sente uma
ingênua, enganada, um nada, pois foi roubada, violada, estuprada,
explorada, escravizada, tudo isso e muito mais com seu consentimento?
Como contar pra alguém tamanha vergonha? Como processar uma rede
articulada de criminosos poderosos e ameaçadores? Como pedir ajuda?
Como juntar seus pedaços dilacerados pelo horror?
Não
é nada fácil!
Se
proponha a ser mais atento especialmente com os adolescentes que são
principal alvo. Seja desconfiado com propostas incríveis de trabalho
fácil em lugares e com pessoas desconhecidas. Seja prudente! Nos
ajude a combater esse crime tão silencioso.
Sobre
as vítimas, existe esperança sim! É possível ressignificar, a
resiliência será sua maior aliada no processo de reconstrução.
Superar é desafiador mas vale a pena.
“eu
era amarga, não confiava em mais ninguém. Pensava que era um verme,
um lixo, mais já me recuperei 80% pra quem era zero%. Não deixo
mais ser oprimida, só sentia que era incapaz de ser gente, sem nunca
poder fala com ninguém! Cresci achando que tinha que me calar,
sempre estive no fundo do poço e de lá sai com a incrível presença
desta equipe.” (C. C.
sobrevivente)
Serviços
disponíveis como o “disque 100” devem ser divulgados a fim de
que quaisquer ocorrências possam ser denunciadas sigilosamente. Em
Campo Grande, MS, você pode encontrar o Projeto NOVA, realiza um
trabalho de assistência aos sobreviventes do abuso e exploração
sexual.
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